quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Cartazes de Cinema

Antes dessa possibilidade de encontrarmos tudo que já foi publicado, dito, escrito, vazado e impresso pela internet, curtir a criatividade dos artistas que bolavam os cartazes de cinema era um trabalho de garimpagem em sebos, lojas especializadas e até antiquários. Hoje, basta digitar “cartazes de cinema” no santo Google e viajar.
E é juntando essa facilidade com as inovações do dia a dia que é possível pensar na sobrevivência dessa arte diante da digitalização do mundo. Certamente os anúncios desenhados ou fotografados para ilustrar películas não vão acabar, o que deve acontecer é a substituição dos cartazes impressos por imagens digitais transmitidas em painéis eletrônicos.
Isso já acontece em cinemas mais modernos, e a coisa não para por ai. Dia desses estava com minha filha à mesa de uma lancheria de um shopping aqui em Brasília, quando notei que na divisória dos espaços havia uma telinha onde, entre outras propagandas, rodavam os horários dos filmes e os seus respectivos “cartazes”.
Logo lembrei de uma coisa que eu gostava de observar. Era a montagem dos painéis de madeira e a pintura das informações, como horários e dias de exibição, que se fazia para emoldurar os cartazes que vinham dentro das latas que transportavam os rolos de filmes. Para minha frustração nunca consegui ficar com um deles. Tio Bilaca não deixava, devolvia todos, religiosamente.
Bilaca, cujo nome era Nalvo, além de bilheteiro – e lanterninha, mas essa é outra história -, também montava os painéis. Meticulosamente, manejava os grampeadores para fixar o cartaz na madeira, e depois com pincéis e tintas pintava, caligraficamente, a hora e os dias em que as películas ficariam em cartaz. Para completar coloria com outros floreios de cores combinadas, as laterais que sobravam. Seu desafio era realçar os cartazes.
Seu ateliê era um sala de 2,5m por 4m, no máximo, embaixo de uma escada, separado do canto direito do palco pelo banheiro feminino, no final de um pequeno corredor que alcançava uma saída secundária do salão. Era abafado, pouco iluminado, o chão forrado com tábuas soltas sobre o quase sempre frio piso de cerâmica. Até hoje é possível lembrar da mistura do cheiro de papel, goma arábica e tinta que tomavam conta daquele imenso cantinho mágico.
Bilaca era um homem corpulento, calvo, rosto redondo, seus movimentos me pareciam em câmera lenta, aparentemente estava sempre bravo. No fundo, tinha ótimo senso de humor, mas este só entrava em plena atividade nas pescarias. Como eu era pequeno, coisa de nove, dez, onze anos, levei bons corridões do seu ateliê, pois, naturalmente, não conseguia ficar muito tempo parado e a cada movimento que eu fazia as tábuas tremiam e ele borrava o desenho.
Nada que hoje um bom computador não resolva.   

5 comentários:

  1. Patricia Antoniazzi Saldanha

    Berê,

    O CineLux está gravado em nossas melhores lembranças e a brabeza do Bilaca também, pois o coitado tinha que aguentar a molecada que ía aos matinés mais para zoar com ele do que assistir os filmes.

    abraços,

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  2. Zeca Martins:

    Carlo, muito legal o teu blog. Agora já tenho fonte confiável para saber o que assistir. Lembro dos muitos filmes que assisti no Lux e de volta e meia encontrar contigo e/ou com o Marlo que entravam sem aviso pela porta que ligava o cinema a tua casa. Sentia uma inveja saudável, pois assistir a todos os filmes e quase quantas vezes quisesse era tudo. Hoje sinto saudades daqueles bons tempos de nossa convivência e dos cinemas e teatros. Parabéns meu amigo!

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  3. Hylda Cavalcanti:

    eh Iberê, entrei agora e vi seu blog. Super legal. Depois de ler os textos, tenho mais é que dar vivas ao seu avô Júlio, já que vc disse que foi ele quem começou tudo isso. Tb adoro cinema e vou sufar de vez em quando. Sucesso. bjs,

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  4. Bartolomeu Rodrigues:

    Iberê, isso não é brinquedinho. É coisa séria, e das boas. Já adicionei aos meus favoritos. Parabéns!

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